sábado, 9 de novembro de 2013

Brasileira larga profissão e viaja o mundo para se especializar em chás

Daniele quer conhecer a cultura do chá em pelo menos dez países (Foto: Arquivo pessoal)
Daniele quer conhecer a cultura do chá em pelo menos dez países (Foto: Arquivo pessoal)
Com o sonho de montar uma casa de chás em Curitiba, a jovem Daniele Lieuthier, de 27 anos, decidiu viajar o mundo para se especializar no ramo. O percurso começou em Paris, na França, em julho deste ano e deve encerrar em abril de 2014, no Marrocos. A curitibana planejou passar também pela  Inglaterra, Turquia, Índia, Nepal, Tailândia, China, Japão eTaiwan - dez países ao todo.
Para custear a viagem, Daniele optou pelo método "Farm and Travel", onde ela trabalha e ajuda os produtores das fazendas em troca de hospedagem e alimentação. Entre um local e outro, ela busca entender a cultura e os diferentes procedimentos de cultivo e preparo.
Chá de maçã, muito popular entre os turistas de Istambul. Ao fundo, a famosa Mesquita Azul (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Chá de maçã, muito popular entre os turistas de Istambul. Ao fundo, a famosa Mesquita Azul (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
A paixão de Daniele pela gastronomia começou em 2008, quando largou a profissão de publicitária para investir no ramo. "Desde que aprendi a apreciar mais a culinária, meu sonho era abrir um café. Mas, viajando por aí, vi que chá é tendência e é o novo nicho de mercado. Por isso, decidi abrir uma casa de chá", conta.
Até chegar a Çiftepugar, um vilarejo que fica no estado de Artvin, quase na fronteira com a Geórgia, onde está instalada atualmente, a jovem relembrou as experiências vividas desde o início da viagem.Antes de iniciar a viagem, Daniele já tinha passado uma temporada fora do Brasil. Quando retornou, chegou a trabalhar como cozinheira e a gerenciar um restaurante em Curitiba. Foi a partir daí que o sonho em abrir um negócio próprio se concretizou. Entre os setores em que ela buscou especialização estão o de confeitaria e padaria.
"Minha família e meus amigos acham que eu sou meio maluca", brinca Daniele. "Mas meus pais ficam tranquilos porque sabem que eu sei me virar, já morei duas vezes fora. Agora, comecei por Paris, onde passei todos os dias e todas as tardes tomando chá", recorda. Ela relatou que chegava a visitar de cinco a sete casas de chá e confeitarias por dia. "Cinco dias depois fui para Londres. Fiquei uma semana no mesmo ritmo de Paris - tomando chá e comendo docinhos em alta velocidade, pra aproveitar bem o tempo", conta.
Chás pu-erh são conhecidos pelos londrinos como "tijolos" (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)Chás pu-erh são conhecidos por londrinos como
'tijolos' (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
"Eu gostei de todos. Mas em Londres tem um tipo de chá conhecido como "pu-erh", que são fermentados por fungos e bactérıas. Esse eu achei com um gosto bem esquisito e peculiar", conta Daniele. Segundo ela, depois de preparados, os chás são comprimidos e armazenados por muito tempo.
"Esse processo era utilizado para facilitar o transporte, pois com as folhas comprimidas, o espaço utilizado é menor. Podem ser de qualquer tamanho. O resultado desse método de preparo é um gosto de terra molhada, quase barro. Bem esquisito", afirma. Os chás são chamados pelos londrinos de "tijolos".
Daniele contou também que os chás da tarde em Londres são como cafés coloniais. "São chiques e servıdos à la carte. Tive o prazer de ir a um que se chamava Prêt-'a-portea, no Hotel Berkeley. Todos os doces eram inspirados em roupas e acessórios de renomados designers. E era tudo muito bom! O único problema era o preço", explica. O valor médio, segundo ela, gira em torno 45 libras, o equivalente a R$ 150.
O próximo destino da curitibana foi Istambul, onde ela morou por dois meses. "Passei uma semana trabalhando em uma loja no Spice Bazaar (uma espécie de mercado municipal), que vende chás e temperos. Aprendi umas técnicas turcas de venda muito engraçadas. Os caras fazem tudo pra vender. Mas lá, trabalhava 12h por dia, de pé, chamando as pessoas que passavam pelo corredor para entrarem na loja. Foi esgotador", lembra.
Doce provado em Istambul tem recheio com frango desfiado (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)Doce provado em Istambul tem recheio com frango
desfiado (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Também em Instambul, um doce recheado com frango desfiado chamou a atenção de Daniele. A sobremesa é conhecida como tavuk Göğsü e é uma espécie de pudim, com consistência de creme com gosto de baunilha, canela e frango desfiado, detalha.
"O mais engraçado é perguntar para as pessoas se elas gostam da sobremesa e escutar respostas tipo: é uma delícia ou é meu doce favorito, como se fosse o brigadeiro feito no Brasil", acrescenta. "Apesar de tudo foi uma experiência muito bacana. Todos os dias eu tomava muito chá preto, que para os moradores de lá é como se fosse café".
Melhor doce do mundo
Doce  (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Doce Mistiy Island tem sorvete feito com chá de jasmim e coco (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Daniele garante que o doce conhecido como Misty Island é o melhor doce que ela já provou na vida. " Provei essa maravilha na casa de chás Mariage Frères, uma das mais tradicionais de Paris, aberta desde 1854. O melhor doce do mundo", ressalta.
A sobremesa é feita com manga flambada coberta farofa doce preparada com açúcar, manteiga e farinha e possui uma bola de sorvete feito com chá de jasmim e coco. No topo, tem um merengue de coco e, sobre o prato, calda  de maracujá.
Na Turquia, o chá é preparado com uma chaleira de dois andares. Embaixo, com água fervente, e em cima, com um chá bem concentrado. Na hora de servir, deve-se misturar o conteúdo das duas chaleiras (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)Na Turquia, o chá é preparado com uma chaleira de
dois andares (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Aprendizado
Mesmo ainda não tendo encerrado a viagem, Daniele comemora o pouco que já aprendeu sobre chá. "Todos os chás vêm da mesma planta, Camelia sinensis (existem duas subespécies). A terra, a altura e a umidade da plantação alteram o sabor da folha. Mas, no resultado final, o que faz a grande diferença é o processo de fabricação do chá, ou seja, a oxidação de cada folha", explica.

Outro fator importante é o preparo do chá. "Nós, brasileiros, em maioria desconhecemos, pois estamos acostumados a tomar chá de saquinho. Mas, para preparar chás de qualidade, a granel, deve-se cuidar com o tempo e a temperatura de infusão", explica. Um chá preto, em geral, deve ficar em infusão durante aproximadamente 5 minutos, em água a 95ºC, segundo ela. "Já um chá verde, deve ficar em infusão durante apenas três minutos, e a temperatura da água deve estar em torno de 70ºC", destaca.
"Existem muitos tipos de chá verde, muitos tipos de chá preto e muitos outros tipos de chá espalhados por aí. Espero poder trazer um pouquinho dos chás do mundo para Curitiba e o Brasil", estima.
Chá saboreado em Londres é feito com arroz e tem gosto de pipoca  (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Chá saboreado em Londres é feito com arroz e tem gosto de pipoca (Foto: Daniele Lieuthier / Arquivo pessoal)
Acolhimento
Em todos os locais em que passou, a jovem explicou que foi muito bem recebida pelas famílias onde ficou hospedada. "Em Çiftepugar, não foi diferente. O que mais estou estranhando é ter que usar o banheiro turco. E como é fazenda, ainda fica pra fora de casa. Fora isso, também não me acostumei ainda com as aranhas e ratos. Mas é coisa de sítio e eu cresci na cidade", diz.

Para ela, a experiência em acompanhar a família muçulmana está sendo, no mínimo, interessante.
"O Cemal, um dos rapazes da fazenda, reza cinco vezes por dia, logo depois do chamado que soa em todas as ruas de toda a Turquia para avisar que é hora de rezar", argumenta. 
Adriana Justi / Do G1 PR

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